Friday, 17 October 2008

O Rio que Corre no Teu Jardim

O rio que corre no teu jardim
não tem lugar algum
no mundo dos teus sonhos
que é a tua casa.
É por isso que não sabes nunca quem tu és
ou que memórias nele correm.
O rio que corre no teu jardim
é um espelho da minha face distante
dos meus sorrisos que nunca foram
dos nossos suspiros de criança.
Como um desejo secreto
um portal escondido
um tesouro perdido;
o rio que corre no teu jardim
tem o meu nome
e por isso está sempre ali
tão perto e disponível
o som da água por entre as pedras
o cristal fresco feito de pedaços de azul
e o mundo inteiro para atravessar,
à espera que um dia
o teu olhar desperte e tu descubras
que há um rio que corre no teu jardim
só para ti.

Existence

Às vezes não há mais nada para além do silêncio. E da escuridão. É talvez aí que nos encontramos e nos perdemos ao mesmo tempo. Num lugar sem espaço, num momento para além do tempo. Às vezes olho em redor e não vejo mais do que a solidão que nos rodeia a todos. A inevitabilidade que desesperadamente - ainda que sem o admitirmos ou nos apercebermos - tentamos combater. Numa ou em muitas outras pessoas, num objectivo material, numa experiência espiritual, numa realidade monetária ou sexual. Lutamos, e por vezes fazêmo-lo com tal ímpeto que quase chegamos a acreditar que há um sentido, um rumo, um caminho. E a vida sabe bem.
E, ainda assim, por mais clara e simples que seja a estrada que percorremos, assim que olhamos para algo para além do exacto local que estamos a pisar, algo de desconcertante sucede. Como uma visão do passado e do futuro numa mistura heterogénea mas ainda assim única, ao mesmo tempo que a vista em nosso redor nos mostra pedaços de todos os caminhos alternativos - da vida que nunca poderemos viver mas que, ainda assim, parece estar ali tão perto.
Sós e incapazes de nos conhecermos ou saber para onde vamos, isolados numa realidade material que não nos deixa compreender sequer o que somos, e que, no fim de contas, separa-nos, mais do que nos aproxima, de tudo e de todos.

Wednesday, 15 October 2008

The Book

Can you still remember the sweet gentle surface of the book we used to read? We swore we would never finish reading it. Each word as the most precious gift, each sentence as the most valuable jewel: we would read each piece of it like it was the last thing we would have ever read. And that's how we imagined it: you, me and our book, together, page by page, year by year, we would face eternity and live forever. Until one day we read the last page. It was yellow. And old. Most of all: we did not notice it - how could we ever suspect that we were actually getting to the end of it, that our eyes would soon rest in the words "the end" just to realize that nothing really lasts forever - not even the book we once started reading together. And so it was. You, me, and the last page of that old book that told us so many stories about the world and life and the universe. Stories of men and women, of lives and dreams and cultures. But in that moment, when our eyes met and our voices said it, "the end.", it was like those words were more powerful than anything else - like they could, by themselves, wipe out all that we had read.
The truth is those words didn't erase anything at all. All the moments, smiles and comments, all our attention towards each single word and punctuation and all the times our voices were one when sailing through the mystery of that book - they are all still alive in the world of memories. That's what "the end" truly means: the beginning of forever.